Melancolia adicional

Muito embora nesse momento Von Trier talvez ainda tente se livrar dos fantasmas de sua própria condição recente, tentando buscar um significado para seu próprio caminho (já que teve que “matar” seus demônios em Anticristo) agora acaba então tentando mostrar que, diante do inevitável, ao invés de se debater e fugir sem objetivo como insetos, o melhor seja aproveitar o tempo que lhe resta, construir seu próprio abrigo e se juntar com quem (em poucos momentos ou não) conseguiu te aceitar durante o que passou. Se na psicologia a melancolia é a perda (diminuição) de si mesmo diante dos demais, como se não conseguisse se sentir apto a fazer nada com propriedade, são em momentos como esses (finais) que todos acabam então tendo a certeza de que, mais do que nunca, não existem diferenças.

E mesmo com essa espécie de pessimismo (que não é novidade, mas algo recorrente nas obras do diretor) o que Melancolia faz, não é mostrar o que ocorre, perigando cair em um pragmatismo que, muito pelo contrário, não combina com o cineasta, mas sim fazer cada um de seus espectadores pensar naquilo, tentar entender e imaginar o que se pode fazer quando se perde o controle sobre o mundo que você vive, quando nada mais importa a não ser o que já passou. Assim como não se esconde por trás de verdades próprias e apenas faz com que o espectador perceba que, seja em um casamento, na relação com a família ou em uma vida inteira, os ciclos mudam e tudo que começa acaba, mesmo que toda sua duração seja relativa.

Mas, ao mesmo tempo, Melancolia ainda tenta lembrar a todos que nada é mais substancial, palpável, calmo e relaxante que a esperança, seja apenas um fio dela que faz Claire relaxar ao sol, ou o contrário, que permite que todos esperem que a passagem do planeta seja apenas um acontecimento inesquecível e belo. E não a falta de caminho para seguir, já que todos levam ao mesmo lugar, mas a possibilidade de fazer com que cada momento tenha a possibilidade de ignorar esse peso e voar ao céu como os balões com palavras de celebração na noite do casamento de Justine. Justamente, não uma fuga, mas sim uma esperança.

No fim de tudo, Von Trier (que mais do que nunca parece não fugir de seu próprio Dogma95 e não esconde a dependência diante de seus personagens, com essa câmera inquieta, tremendamente plástica, mas, instintivamente sempre à procura do que está por trás daquelas pessoas) não foge do ritmo lento, que faz mais ainda que Melancolia seja essa experiência pesada, já que a idéia principal é mostrar que diante do inevitável, aquilo que se entende por tempo não liga em se estender, assim como faz com que o escuro do final do filme, e o silêncio com que os créditos ganham vida, seja reconfortante e um belo momento para todos tentarem entender o que acabaram de ver, já que Lars Von Trier mostra que não há jeito mais poético e belo de acabar com o mundo do que esse.

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